O egípcio que partilha a cozinha comigo tem o hábito exasperante de trautear cânticos em árabe enquanto remexe por entre tachos e talheres. Fez afixar em tempos, numa das paredes da divisão, um calendário tamanho A3 que o ajudou a seguir o Ramadão sem sobressaltos religiosos. Fontes próximas garantem-me que a relação com a companheira do quarto ao lado é tensa. Ela, uma loira neurótica cujas obsessões logísticas levariam Eichmann à loucura, não gosta das refeições fora de horas do vizinho. Ele não gosta de mulheres que dão ordens.
Há algum tempo tentou interessar-me em fazer uma contribuição para as crianças da Palestina que recusei delicadamente fazendo valer a minha condição de estudante eternamente pobre. A seguir às noites em que abrem o bar do rés-do-chão, ele é a minha melhor aposta para explodir com a residência,
terça-feira, 19 de maio de 2009
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