Se perderem tempo a pesquisar, encontrarão por essa internet fora imensos relatos de pessoas que odiaram o concerto de Yann Tiersen no último sábado. Houve mesmo quem se tivesse levantado e abandonado o espectáculo a meio (não contei mas só que eu tenha visto foram certamente mais de 10 pessoas). Em meu redor, só se viam braços cruzados e rostos de aborrecimento. O senhor de meia idade a meu lado chegou mesmo a cobrir os ouvidos com as mãos na cabeça numa parte em que Yann Tiersen se rebolava no chão numa catarse confusa e apoteótica ao som de agudos estridentes. No final, a plateia estava longe de estar rendida ao talento do génio francês. Apesar do encore, as palmas no final não foram muito prolongadas e longe de ensurdecedoras. Em meu redor eu fui o único que aplaudi de pé.
A grande maioria da plateia conhecia Yann Tiersen das bandas sonoras de O Fabuloso Destino de Amélie e Goodbye Lenine. Apesar de terem sido esses trabalhos os responsáveis pela sua projecção internacional, o seu reportório é muito mais do que isso. E no último concerto Yann Tiersen fez questão de o demonstrar. O acordeão não apareceu em palco. O piano deu lugar ao sintetizador. As melodias simples e alegres de Amélie substituídas pela constante distorção de fundo onde se apoia a construção musical que parece suceder em clímaxes estridentes e triunfais. Sem querer depreciar a sua outra faceta (que também aprecio), este Yann Tiersen parece maior. Mais completo. Enorme. Vê-lo rebolar no chão envolto numa nuvem de fumo e numa parede de distorção, em duelo épico com a guitarra tentando encontrar no meio daquele aparente caos ácido a saída épica para mais um zénite explosivo. Um caos ruidoso, sombrio, por vezes melancólico, por vezes em crescendo até à morada final, Tiersen contorcendo-se, possuído, cambaleante, catatónico, irrompendo subitamente com o violino, sobrepondo-se a uma construção matemática irracional com a desarmonia de mais uma hesitação. Não houve muito espaço para as melodias alegres e a voz suave de outros álbuns, daí a desilusão de muitos fãs. No final do concerto falei com ele. Não parecia muito afectado pela notória fraca adesão da plateia. Pouco comunicativo, mas completamente refeito do estado de transe metamórfico ocorrido escassos minutos antes. A resposta mais coerente e perceptível que obtive da conversa foi quando lhe perguntei como era a cerveja Sagres (de lata) que ele desinteressadamente ia bebendo enquanto conversava comigo. "Surprisingly good" disse ele.
Deixo aqui os dois momentos mais altos do concerto na minha opinião. O vídeo não corresponde ao concerto de Portugal mas a setlist e a interpretação das músicas é exactamente igual ao longo de toda a tour por isso podem ficar com uma ideia. Não se vão arrepender certamente.
segunda-feira, 6 de julho de 2009
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Secalhar tiveram sorte ... e ele não cantou!
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