quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sudokus, palavras cruzadas e Kafka

Confesso desde já que li há muitos anos "A Metamorfose" de Kafka e achei aquilo hediondo. E não no sentido de me ter enojado a criatura em que Gregor Samsa se transformou (vem a propósito a eterna discussão da tradução da famosa primeira frase do livro, em que o termo original alemão verwandelt é erradamente traduzido para insecto em toda a literatura lusófona e alguma britânica ("Quando Gregor Samsa despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos, viu-se metamorfoseado num monstruoso insecto"). Na verdade, insecto corresponde a uma classificação mais precisa e específica ao contrário do termo mais abrangente de "bug", desrespeitando a vontade do autor, manifestada em várias cartas ao seu editor, que não pretendia caracterizar com detalhe o verme em que Samsa se havia metamorfoseado mas apenas considerá-lo numa dimensão mais abrangente de "criatura" repugnante). Enfim, o livro é mau. Mas não por se sustentar, tal como outros romances da época, no conceito do "absurdo" e no confronto do homem com esse mesmo absurdo; o livro é mau porque é literariamente muito pobre. Lamento ferir susceptibilidades mas aquilo depois de se subtrair o hype de ser reconhecido como um dos grandes clássicos da literatura sobra muito pouco; muito pouca literatura. Mas o meu grande problema é este. O Guardian escreve que Reading Kafka 'enhances cognitive mechanisms', claims study (o The Guardian, como todos sabemos, é o éden dos palermas pretensiosos que acham de bom tom ir mantendo a boa relação de amizade com a cultura anglo-saxónica.) Enfim, parece que está explicado o meu défice cognitivo, a improdutividade e nulidade de toda a minha juventude e, acima de tudo, a sucessão monótona de posts inúteis e vulgares.

3 comentários:

  1. li a metamorfose tambem há uns bons aninhos. Na altura não sei por ser um jovem facilmente impressionavel ou não gostei do livro. Mas agora que leio este post e penso naquilo que verdadeiramente retiro da estória macabra de gregor samsa é pouco, muito pouco.

    Sobre o estudo, bem tenho a dizer que hoje há estudos (e cientistas) para todos os gostos, se qualquer dia sair um estudo que uma banana frita comida todas as sextas as 6 da tarde ajudam a ter um fim-de-semana mais relaxado eu njão me espantaria..


    JFC

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  2. como poderão reparar onde está escrito "ou não" deveria estar apenas um brevíssimo "mas".

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  3. O problema está em redor da palavra 'Ungeziefer' e a melhor tradução (ou a menos má...) parece ser a de 'insecto parasitário'. O que, aliás, representa bem os verdadeiros sentimentos do protagonista em relação à sua vida em família. Já a tradução por 'barata' está completamente errada.

    Flávio
    www.emma49.blogspot.com

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