domingo, 21 de junho de 2009

I used to be carried in the arms of cheerleaders




Não raras vezes dou por mim por mim invejoso de pessoas felizes com a vida que levam. Isto agudiza-se quando somos jovens e os dias escorrem lentamente por entre corredores de hospital. Por duas razões muito simples: sabemos que vamos voltar aqui todos os dias nos próximos 36 anos ao mesmo tempo que sabemos que nunca mais vamos voltar aqui - os 22 anos, a cama de solteiro, as festas com demasiada gente, os livros pela noite fora. É claro que o diletantismo tem os seus limites e, invariavelmente, o despertador vai voltar a tocar na manhã seguinte. E na próxima. Provavelmente porque no fundo sabemos que acordar mais uma manhã, que ficar, é a opção correcta, mesmo se isso raramente é motivo para grande conforto.
Recentemente vi-me forçado a estudar um livro sobre os grandes momentos da história da Medicina escrito por William Bynum, professor emérito na University College de Londres. A certa altura o tema é Xavier Bichat, o precursor da Histologia, cuja vida é descrita nos seguintes termos: «he lived and died in the hospital, dividing his time between the bedside and dead room». O tom geral é panegírico, a exaltação de um homem excepcional dedicado exclusivamente ao avanço da Medicina. Xavier Bichat morreu com a provecta idade de 31 anos. Bynum não hesita um momento, intitula-o «a hero» e descreve a sua vida como «the perfect trajectory». O meu problema é que não sei se Bichat concordaria.

1 comentário:

  1. Sabes o que dizem alguns professores meus? "as grandes personagens, quer seja nas artes ou nas ciências, têm muitas vezes grandes perturbações a acompanhar".."a inteligência acarreta sofrimento" e por fim "filosofia do pateta alegre". Conclusão: para seres alguém que mais tarde vai ser recordado, regra geral, tens de ter uma perturbação ou duas e sofrer a par com elas. Não te esqueças que por muito amor ao trabalho que se tenha,não sair do hospital...é como o Dr. Richard na Anatomia de Grey que não queria sair dada a "mess" que tinha em casa. Para ser feliz é ser como o pateta e apreciar as pequenas coisas, não esperar muito de nada nem ninguem, sendo a única grande causa digna de preocupação "o que vai ser o jantar?".

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