domingo, 27 de setembro de 2009

Das Legislativas

Ponto 1 - Parabéns à prima.

Ponto 2 - Numa noite em que tanto se fala em vencedores tomo a liberdade de me incluir nesse grupo. Hoje, no momento de saber os resultados, sentei-me em frente à televisão apenas para confirmar o proverbial atraso da nação, sem preocupações nem angústias pessoais. Independentemente do resultado de hoje, amanhã teria sempre a mesma rotina, o mesmo local de trabalho, o mesmo cargo, as mesmas responsabilidades,o mesmo rendimento, a mesma vida. Que assim permaneça por muitos anos.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Sudokus, palavras cruzadas e Kafka

Confesso desde já que li há muitos anos "A Metamorfose" de Kafka e achei aquilo hediondo. E não no sentido de me ter enojado a criatura em que Gregor Samsa se transformou (vem a propósito a eterna discussão da tradução da famosa primeira frase do livro, em que o termo original alemão verwandelt é erradamente traduzido para insecto em toda a literatura lusófona e alguma britânica ("Quando Gregor Samsa despertou uma manhã na sua cama de sonhos inquietos, viu-se metamorfoseado num monstruoso insecto"). Na verdade, insecto corresponde a uma classificação mais precisa e específica ao contrário do termo mais abrangente de "bug", desrespeitando a vontade do autor, manifestada em várias cartas ao seu editor, que não pretendia caracterizar com detalhe o verme em que Samsa se havia metamorfoseado mas apenas considerá-lo numa dimensão mais abrangente de "criatura" repugnante). Enfim, o livro é mau. Mas não por se sustentar, tal como outros romances da época, no conceito do "absurdo" e no confronto do homem com esse mesmo absurdo; o livro é mau porque é literariamente muito pobre. Lamento ferir susceptibilidades mas aquilo depois de se subtrair o hype de ser reconhecido como um dos grandes clássicos da literatura sobra muito pouco; muito pouca literatura. Mas o meu grande problema é este. O Guardian escreve que Reading Kafka 'enhances cognitive mechanisms', claims study (o The Guardian, como todos sabemos, é o éden dos palermas pretensiosos que acham de bom tom ir mantendo a boa relação de amizade com a cultura anglo-saxónica.) Enfim, parece que está explicado o meu défice cognitivo, a improdutividade e nulidade de toda a minha juventude e, acima de tudo, a sucessão monótona de posts inúteis e vulgares.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Não gosto de manter isto actualizado

E por isso só aqui deixo isto já com alguns dias de atraso. Andou meio mundo entusiasmado com este ponto do Federer, clamando ser "a melhor jogada de ténis alguma vez realizada" desde que as raquetes deixaram de ser de madeira e a Kournikova venceu algum torneio. Por favor. Qualquer jogador profissional (e aqui, com algum exagero da minha parte confesso, até ouso incluir a nossa Neuza Silva) é capaz de fazer aquela pancada; sim há ali muita sorte e mau posicionamento do Djokovic; e sim há ali qualidade técnica, mas nada que não se possa encontrar num júnior um bocadinho mais talentoso. Até tive de rebater a tese absurda de um amigo que, conhecendo a minha fraca empatia pelo Fed-express, veio pavonear-se diante de mim com esta jogada dizendo-me "aqui tens a prova de que o Federer é o melhor de sempre". E ter de contrariar isto cansa-me. A sério. Mas...bem...espero que o mundo possa um dia retribuir-me por este sacrifício pessoal.

P.S. A única razão pela qual eu aqui deixo o vídeo é para poderem apreciar a reacção de Djokovic no final do ponto. Esse sim é o momento mais alto do vídeo...porque imagino que as mesmas pessoas que endeusaram o Federer no final deste jogo terão tido um acordar difícil depois de um miúdo de 20 anos estreante em finais de Grand Slam ter dado uma lição de consistência anímica e poder de aceleração de direita, apesar dos seus aparentemente desajeitados 1,98m de altura (tornando-se o jogador mais alto de sempre a conquistar um Grand Slam).

sábado, 12 de setembro de 2009

Mas o PM é que tem nome de filósofo romano

"Se recuássemos dois ou três mil anos Louçã era o Cícero da Grécia Antiga."

Judite de Sousa ao Expresso de hoje. Nada de muito surpreendente, note-se, mas sempre ficamos esclarecidos sobre aquilo a que estamos entregues.

Não prometo que isto seja interessante

Regressado de férias, não posso deixar de me juntar ao coro de vozes pela blogosfera indignadas com a fraca qualidade da revisão do texto de Pynchon publicado pela Relógio D'Água. Aquilo parece ter sido dactilografado numa máquina de escrever antiga sem correcção ortográfica automática, por um secretário analfabeto e com perdas de consciência ocasionais que nos deixam pérolas como "Ele parece ter um ser sido instável", bem acompanhadas por uma dispersão aparentemente aleatória de acentos graves e agudos com a mesma precisão com que o Binya poderia um dia distribuir jogo ofensivo no meio campo do Barcelona. O texto todo parece um daqueles exercícios para as crianças do básico tentarem descobrir erros de pontuação, ortografia e sintaxe numa dada frase, e depois reescrevê-la sem erros da maneira que o Pynchon a terá idealizado. Entretanto, o Casanova diz que quanto às gralhas, sendo mais ou menos consensual que o Thomas Pynchon não trabalha para a Relógio D'Água e não teve nada a ver com o assunto, estou-me moderadamente a cagar para elas, especialmente quando há ali um livro sobre o qual é preciso falar. Mas sobre o livro não há muito para falar. É bom mas não deslumbrante. Enquanto nos vamos distraindo com estes aperitivos, vamos esperando que alguém neste país se dedique à inglória tarefa de traduzir Against the Day ou Inherent Vice...e esperar que o Binya melhore a sua técnica e jogo de pés.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Silly Season II

Avisam-se os milhares de leitores deste blog que a partir de hoje a frequência de posts passará de muito reduzida a nula. Isto deve-se a um conjunto variado de circunstâncias, onde infelizmente não se inclui o festejo por mais uma vitória europeia do Sporting em casa ou a Megan Fox. Lamento, mas isto de férias cansa qualquer um. Estaremos de regresso em Setembro.

domingo, 26 de julho de 2009

Silly-Season

Como um fim-de-semana absolutamente normal se torna num momento histórico digno de uma epopeia apenas por ter comprado o Leilão do Lote 49, depois de uma busca infrutífera por todas as livrarias e alfarrabistas deste miserável país durante mais de dois anos. Têm-no aqui, depois podem agradecer-me com copos na noite (P.S. Para quem não me conhece bem, tenho um fraquinho por Corona.)

terça-feira, 21 de julho de 2009

Dies Irae

Naquela que é certamente uma das melhores músicas para aí desde o séc. XVII, Jeff Buckley a certa altura geme dolorosamente as seguintes palavras: Maybe I'm just too young to keep good love from going wrong. Buckley tinha 27 anos na altura em que escreveu esta música. Eu faço hoje mesmo 21 anos. E isto é triste como a merda.

sábado, 18 de julho de 2009

Dúvidas Existenciais

Os jornalistas ignorantes (perdoem-me o pleonasmo) deste país decidiram agora pegar na polémica (?) da exclusão dos homossexuais masculinos da dádida de sangue, algo que já ocorre há muitos anos. Como é óbvio, fazendo parte de um grupo de risco com prevalência aumentada de hepatite e outras doenças potencialmente transmissíveis (dados comprovados por vários estudos e artigos publicados nas últimas décadas), faz sentido que, apesar dos testes laboratoriais realizados após a dádiva, se excluam os homossexuais para proteger os potenciais beneficiários da transfusão sanguínea. A questão fundamental que neste momento me preocupa é saber se devo deitar para o lixo o meu Cartão Nacional de Dador de Sangue só por gostar muito (mas mesmo muito, confesso, estou preocupado) desta foto:

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Desculpem-me...

this(let's remember)day died again and
again;whose golden,crimson dooms conceive

an oceaning abyss of orange dream

larger than sky times earth:a flame beyond
soul immemorially forevering am-
and as collapsing that grey mind by wave
doom disappeared,out of perhaps(who knows?)

eternity floated a blossoming

(while anyone might slowly count to soon)
rose-did you see her?darling,did you(kiss
me)quickly count to never?you were wrong

-then all the way from perfect nowhere came

(as easily as we forget something)
livingest the imaginable moon
e.e. cummings





Rosie Huntington Whiteley

Senti-me tão mal em fugir este fim de semana que resolvi deixar-vos com aquilo que de mais belo foi criado, respectivamente, na 1º e 2º metade do séc. XX.

Ich bin ein Berliner



Uma vaga de fundo impeliu o meu regresso à actividade, sensibilizado que estou com os incontáveis mails a questionar o porquê desta paragem. A verdade é que tenho andado demasiado ocupado a dormir sestas durante a tarde, uma actividade incomparavelmente civilizada quando comparada com a minha rotina matinal de visitas ao hospital. No tempo que distou desde o meu último post vi-me forçado a comparecer em mais do que uma penosa reunião de expiação, choro e auto-culpabilização ou, como lhe chamam aqui, os seminários sobre Deutsche Geschichte und Ethik der Medizin. Um regalo. Os intervalos que me sobram desperdicei-os a estilhaçar o mito da eficiência germânica enquanto confirmava para lá de qualquer dúvida o mito sobre a universalidade da incompetência do pessoal administrativo de Universidades.
Nos 14 minutos que leva o 600 a chegar à Kliniken Nord tenho andado a ler o «On Liberty» do John Stuart Mill , sempre com um sorrisinho nos lábios, porque quase consigo sentir as cabecinhas tensas de desaprovação perante tanta incitação à licenciosidade.
Entretanto parece que o Luís M. Jorge voltou mesmo, de início apenas para demonstrar que Veneza, sem as pessoas, sem as Foccacerias de esquina, sem os hare krishna a enxamear a Piazza San Marcos, sem os Bellinis a preço de extorsão, é provavelmente a cidade mais bonita do mundo. Ide ver.
Amanhã parto para Hamburgo e daí para Berlim. Para os interessados, até 3º feira, estarei algures entre aqui e aqui.
Fiquem bem. Recuem educadamente se alguém tentar sequer iniciar uma conversa sobre gripe ou usar a expressão «pais afectivos». E parem de ouvir essas músicas horríveis que de certeza andam a ouvir. Até breve.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Biografias

"Uma escada! Arranjem-me uma escada."

últimas palavras de Nikolai Gogol no leito da morte, após 9 dias de jejum absoluto como castigo auto-infligido por ter decidido queimar na lareira o manuscrito da segunda parte de Almas Mortas.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

As Novas Fronteiras II

Permitam-me a honra de apresentar em primeira mão as imagens do próximo congresso socialista.

As Novas Fronteiras

Chego a esta notícia com algum atraso apenas para descobrir que existe finalmente algo que me liga a Sócrates.
Pode-se detestar o político mas temos de dar algum crédito ao esteta.


quarta-feira, 8 de julho de 2009

e eu não faço críticas ao rui costa, por enquanto

Introdução:

após ultrapassar o meu carácter sensível, transiente e porque não, algo choramingas, fundindo-o com uma estrita espiritualidade de raiz hegeliana, alcançando desta forma a consciência de mim mesmo e do facto de que está um calor do caralho lá fora e eu não tenho um calção apresentável com que ornamentar as partes posteriores, realizo o fim último da história com h grande, e arranjo um tempinho para espreitar o record, santuário gnosiológico para os cavaleiros da desdita benfiquista nos quais me incluo, orgulhoso, assíduo e pós-histórico, para descobrir que, falcão, radamel precioso e goleador, se apresta a assinar pelo clube dos .... (proponho que o leitor participe da realidade deste texto de forma intensa e livre, preenchendo o espaço por ora ocupado por pontinhos, com insulto de sua preferência, tornando esta merda uma grande experiência comunal, de partilha, etc., mas perdão, divago); aborrecido, prossigo a leitura em direcção a nova e terrível descoberta, desta feita, na impossibilidade de falcão, denis um touro de cabeça ovóide e vagamente reminiscente do orlando sá é o escolhido para a terapêutica de substituição (atenção, eu não faço a mínima ideia sobre o que estou a falar).

Problematização:

mas que merda é esta.

Conclusão:

e prontos era só isto


P.S: e já agora, rui, traz o zé antónio (reis)

Eu também não faço críticas de filmes

Se perderem tempo a pesquisar, encontrarão por essa internet fora imensos relatos de pessoas que odiaram o novo filme de Michael Bay. Houve mesmo quem se tivesse levantado e abandonado a sala a meio.
“Transformers 2 – Retaliação” é um tributo à persistência da nossa memória enquanto crianças, ao poder absoluto da amizade como ferramenta de superação de nós próprios, à gradual vitória do Bem sobre o Mal. Mesmo se desprezado pela maioria da crítica, que teima em não conseguir ver a película que se esconde para além do merchandising, acho que é importante apreciar Transformers 2 por aquilo que realmente é: um ensaio sobre a impossibilidade de um homem (Shia LaBeouf) fugir à sua consciência e, em última análise, ao seu destino. As lutas e explosões foram substituídas pelo constante crescimento de uma amizade onde se apoia a construção de um filme que parece suceder em clímaxes estridentes e triunfais. Este Transformers parece maior. Mais completo. Enorme. Ver Optimus Prime rebolar no chão envolto numa nuvem de fumo, em duelo épico com Megatron tentando encontrar no meio daquele aparente mundo de caos ácido a saída épica para mais um zénite explosivo. Um caos ruidoso, sombrio, por vezes melancólico, por vezes em crescendo, mas que é a sua morada final.
Deixo aqui os momentos mais altos do filme na minha opinião. O vídeo não corresponde a tudo aquilo que "Transformers 2 - Retaliação" consegue transmitir mas podem ficar com uma ideia. Não se vão arrepender certamente.

Da Lei de Murphy

No intervalo de tempo em que estiveres privado de ligação à internet um ministro será demitido por insinuar que um deputado da oposição é cornudo, o Federer irá finalmente vencer o seu 15º Grand Slam num jogo de quase 5 horas e o Michael Jackson vai provavelmente morrer.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Não faço críticas de música

Se perderem tempo a pesquisar, encontrarão por essa internet fora imensos relatos de pessoas que odiaram o concerto de Yann Tiersen no último sábado. Houve mesmo quem se tivesse levantado e abandonado o espectáculo a meio (não contei mas só que eu tenha visto foram certamente mais de 10 pessoas). Em meu redor, só se viam braços cruzados e rostos de aborrecimento. O senhor de meia idade a meu lado chegou mesmo a cobrir os ouvidos com as mãos na cabeça numa parte em que Yann Tiersen se rebolava no chão numa catarse confusa e apoteótica ao som de agudos estridentes. No final, a plateia estava longe de estar rendida ao talento do génio francês. Apesar do encore, as palmas no final não foram muito prolongadas e longe de ensurdecedoras. Em meu redor eu fui o único que aplaudi de pé.
A grande maioria da plateia conhecia Yann Tiersen das bandas sonoras de O Fabuloso Destino de Amélie e Goodbye Lenine. Apesar de terem sido esses trabalhos os responsáveis pela sua projecção internacional, o seu reportório é muito mais do que isso. E no último concerto Yann Tiersen fez questão de o demonstrar. O acordeão não apareceu em palco. O piano deu lugar ao sintetizador. As melodias simples e alegres de Amélie substituídas pela constante distorção de fundo onde se apoia a construção musical que parece suceder em clímaxes estridentes e triunfais. Sem querer depreciar a sua outra faceta (que também aprecio), este Yann Tiersen parece maior. Mais completo. Enorme. Vê-lo rebolar no chão envolto numa nuvem de fumo e numa parede de distorção, em duelo épico com a guitarra tentando encontrar no meio daquele aparente caos ácido a saída épica para mais um zénite explosivo. Um caos ruidoso, sombrio, por vezes melancólico, por vezes em crescendo até à morada final, Tiersen contorcendo-se, possuído, cambaleante, catatónico, irrompendo subitamente com o violino, sobrepondo-se a uma construção matemática irracional com a desarmonia de mais uma hesitação. Não houve muito espaço para as melodias alegres e a voz suave de outros álbuns, daí a desilusão de muitos fãs. No final do concerto falei com ele. Não parecia muito afectado pela notória fraca adesão da plateia. Pouco comunicativo, mas completamente refeito do estado de transe metamórfico ocorrido escassos minutos antes. A resposta mais coerente e perceptível que obtive da conversa foi quando lhe perguntei como era a cerveja Sagres (de lata) que ele desinteressadamente ia bebendo enquanto conversava comigo. "Surprisingly good" disse ele.
Deixo aqui os dois momentos mais altos do concerto na minha opinião. O vídeo não corresponde ao concerto de Portugal mas a setlist e a interpretação das músicas é exactamente igual ao longo de toda a tour por isso podem ficar com uma ideia. Não se vão arrepender certamente.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Eu vou

Sábado, dia 4 de Julho. Creio que os bilhetes estão esgotados há já algum tempo mas se alguém quiser ainda tentar...recomendo.

Nota: Sim, ele parte o arco a meio da interpretação mas continua a tocar como se nada tivesse acontecido.

sábado, 27 de junho de 2009

E nem volto a esta discussão

Os escritores são uma raça à parte. A literatura não é democrática. Ela é baseada na desigualdade. Se você escutar que a França tem mil escritores, isso não é boa notícia. Esse número precisa diminuir. A literatura é baseada numa seleção sem piedade, que guarda o grande valor. Até aceito a literatura medíocre ou média pois ela cumpre uma função, atrai e garante leitores que um dia poderão ir em direção à grande literatura. O perigo começa quando a literatura mediana quer impor suas leis. É preciso que esses universos fiquem bem separados, sem intervir um no outro, como castas.

Ismail Kadaré à Folha de São Paulo.

Retirado daqui.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

O choque tecnológico é isto?

Tantos milhões gastos em Magalhães e José Sócrates ainda se limita a copiar o pensamento político de há 500 anos atrás em que Maquiavel escrevia que a política serve um único propósito: conquistar e manter o poder ou a autoridade.

José Sócrates, primeiro-ministro de um pequeno e distante país chamado Portugal, mandou um empresa semi-pública adquirir uma parte do capital de uma estação de televisão cuja linha editorial o irritava particularmente. A coisa soube-se e o primeiro-ministro arranjou forma de garantir no parlamento que não influencia a gestão da dita empresa semi-privada, no que foi corroborado pelo presidente da dita. Como, entretanto, o caso deu algum brado, o presidente da república se pronunciou sobre o assunto e as eleições estão à porta, o primeiro-ministro decidiu agir. Mandou baixar o preço das salsichas? Claro que não. Uma coisa é a Rússia, outra é uma democracia séria de tipo ocidental. José Sócrates resolveu, afinal, influenciar a gestão da empresa semi-pública e deu ordens para que o negócio não se faça.

Ficção? Nem por isso. Está tudo aqui.


(via Teatro Anatómico)

Resumo desta semana

Este Torneio de Wimbledon 2009 terá de ser seguramente o pior desde que o trambolho desajeitado croata (noutras latitudes também conhecido por Goran Ivanisevic) se tornou em 2001 o primeiro e único campeão com acesso ao torneio apenas por wildcard. A edição actual desta mítica prova tem sido até agora uma sucessão monótona e interminável de jogos sofríveis em que o Federer vai exibindo a sua característica panóplia de bolas disparatadas e, ainda assim, despreocupadamente ganhando jogos atrás de jogos com uma simplicidade que irrita. Djokovic parece finalmente começar a ganhar as boas manias de um grande jogador, enfileirando ali 35 slices e 23 direitas cruzadas a uma distância seguríssima da linha de fundo não vá acontecer um inesperado winner, até ao ponto em que até o mais respeitável e sereno gentleman britânico na assistência perde o controlo e, encarnando por momentos a consciência do adversário do Djokovic, decide disparatar num tiro absurdo com o único propósito de atingir na sua trajectória o "baixo ventre" do Djokovic (ou, em alternativa, o juíz de linha para proporcionar um grande momento à enfadada assistência). Para agravar tudo isto, não só tem estado bom tempo como mesmo que não estivesse os ingleses para este ano construíram um tecto amovível no court central que anula os humores instáveis do clima britânico e faz com que as interrupções de jogos por várias horas ao som da chuva sejam apenas uma doce recordação de tempos imemoriais.
Surpreendentemente (ou não), aquilo de que mais se tem falado durante esta semana tem sido o joelho do Nadal e as suas dogmáticas e misteriosas tendinites de repetição, cuja explicação tem sido alvo de várias teorias (via Maradona) enquanto não sai o novo livro do Dan Brown. Até mesmo o novo fetiche do circuito feminino (os gritos pornográficos de Michelle Brito) desiludiu as centenas de jornalistas presentes nas bancadas com medidores de décibeis em punho, isto porque desta vez para acabar com a polémica o raio da miúda deidiu calar-se só para chatear a malta. Só aqueles gritos me poderiam manter acordado durante estes dias enfadonhos passados em frente à Eurosport enquanto a minha barba cresce e lá fora parece que está bom tempo. Não sei, acho mal...

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Alegrem-se os céus, rejubile a terra

Será que o Vida Breve voltou?

domingo, 21 de junho de 2009

I used to be carried in the arms of cheerleaders




Não raras vezes dou por mim por mim invejoso de pessoas felizes com a vida que levam. Isto agudiza-se quando somos jovens e os dias escorrem lentamente por entre corredores de hospital. Por duas razões muito simples: sabemos que vamos voltar aqui todos os dias nos próximos 36 anos ao mesmo tempo que sabemos que nunca mais vamos voltar aqui - os 22 anos, a cama de solteiro, as festas com demasiada gente, os livros pela noite fora. É claro que o diletantismo tem os seus limites e, invariavelmente, o despertador vai voltar a tocar na manhã seguinte. E na próxima. Provavelmente porque no fundo sabemos que acordar mais uma manhã, que ficar, é a opção correcta, mesmo se isso raramente é motivo para grande conforto.
Recentemente vi-me forçado a estudar um livro sobre os grandes momentos da história da Medicina escrito por William Bynum, professor emérito na University College de Londres. A certa altura o tema é Xavier Bichat, o precursor da Histologia, cuja vida é descrita nos seguintes termos: «he lived and died in the hospital, dividing his time between the bedside and dead room». O tom geral é panegírico, a exaltação de um homem excepcional dedicado exclusivamente ao avanço da Medicina. Xavier Bichat morreu com a provecta idade de 31 anos. Bynum não hesita um momento, intitula-o «a hero» e descreve a sua vida como «the perfect trajectory». O meu problema é que não sei se Bichat concordaria.